Alimentação

Nutrição no Doente Oncológico

Muito embora, a oncologia tenha sido uma das áreas da medicina com mais avanços nos últimos anos, no que respeita a novas estratégias de tratamento e suporte a doentes, aquilo que percebemos também, é que a nutrição é um fator central no tratamento dos doentes oncológicos.

A intervenção nutricional precoce no doente oncológico, tendo em linha de conta a adaptação da sua alimentação é essencial na prevenção de alterações do estado nutricional destes doentes, evitando situações de malnutrição que comprometem não só a sua qualidade de vida, como limita a resposta destes doentes aos tratamentos e poderá piorar o prognóstico da doença.

A malnutrição nos doentes oncológicos é um processo multifatorial que prejudica não só a ingestão de alimentos, como promove o aumento das necessidades energéticas e proteicas. A intervenção nutricional individualizada nestes doentes, que envolva a adequação de planos alimentares adaptados às necessidades nutricionais, ao seu estilo de vida e às suas preferências alimentares é por isso crucial para a:

– Manutenção de um bom estado nutricional;

– Melhoria da função imunitária;

– Diminuição da taxa de complicações associadas à doença;

– Melhoria da qualidade de vida;

– Influência no tempo de recuperação e no prognóstico da doença.

Como tal, defendo que todos os doentes deveriam ter o acompanhamento com um nutricionista, de forma regular, o qual necessita de ser adaptado ao longo do tempo, o que infelizmente não tem acontecido porque existem falta de nutricionistas nas estruturas de saúde pública existentes.

Sabemos que um estado nutricional e de hidra­tação adequados contribuem, de um modo geral, para um sistema imunitário otimi­zado e para uma melhor recuperação dos indivíduos em situação de doença.

Existem de facto muitos nutrientes envolvidos no normal funcionamento do sistema imunológico, nomeadamente, ferro, zinco, selénio, Vitaminas A, C, D, B12, MAS NENHUM ALIMENTO É RECOMENDADO EM DETRIMENTO DE OUTRO. A melhor estratégia a adotar para além das boas práticas de higiene será a variedade e o equilíbrio alimentar.

E como manter este equilíbrio?

No contexto atual e sabendo que as medidas de confinamento vividas podem ter contribuído para alterações no comportamento de compra e de consumo de alimentos, o planeamento do momento de ida às compras é essencial para a manutenção do equilíbrio e qualidade alimentar.

  1. Faça a sua lista de compras, tendo em conta a disponibilidade de alimentos que ainda tem em casa e a capacidade de armazenamento que possui.
  2. Compre apenas o necessário.
  3. Neste planeamento tenha em conta que a sua alimentação deve ser completa e variada, para tal, inclua todos os grupos de alimentos presentes na Roda dos Alimentos.
  4. Mantenha a rotina de refeições ao longo do dia e não descure de outro ponto essencial: manter um bom estado de hidratação!


Que alimentos escolher?

Não devemos particularizar alimentos, devemos sempre tentar incluir na rotina alimentar todos os grupos de alimentos da Roda dos Alimentos, privilegiando o consumo de produtos locais e da época, mantendo um equilíbrio entre os que têm maior e menor durabilidade.

Especialmente no contexto atual é fundamental que prima por atingir as recomendações (geralmente aquém na alimentação da população portuguesa) para o aumento do consumo de frutas, vegetais e leguminosas, pela sua riqueza em vitaminas, minerais, fibras e antioxidante. Nas suas refeições opte também por consumir estes alimentos de forma variada, misturando diferentes cores e assim promovendo a captação de nutrientes distintos.

Ainda assim, e falando de uma forma mais específica para estes doentes, aquilo que se sabe, no que respeita aos doentes oncológicos, é que de facto, níveis mais baixos de carotenoides, vitaminas A, C e E na alimentação podem estar associados ao aumento do processo inflamatório e como tal a alimentação destes doentes deve garantir que se atinjam as necessidades destes micronutrientes.

Sendo assim quando estes doentes estão a planear as suas compras, é importante terem em linha de conta a inclusão de fontes alimentares destes nutrientes por forma a ir de encontro das suas necessidades (necessidades estas que devem ser individualizadas caso a caso, e preferencialmente tendo a orientação de um nutricionista).

Mas de uma forma geral, por exemplo, incluir na sua lista de compras, alimentos da época, desde que tolerados: 

  • Fontes de vitamina C como: Kiwi, papaia, morangos, futas cítricas como a laranja, pimentos e brócolos.
  • Fontes de Carotenoides como os Espinafres, couve kale, abóbora, pimento vermelho, tomate, cenoura, batata-doce.
  • Fontes de Vitamina A: óleos de peixe, fígado, gema de ovo, cenoura, manga, espinafres…
  • Fontes de vitamina E como: as nozes, sementes e óleos vegetais e ainda os vegetais de folhas verdes.


Ou seja, mais uma vez o reforço dos grupos alimentares que tínhamos falado anteriormente.

No contexto de isolamento (vivido recentemente por muitos de nós) existe ainda outra vitamina à qual deve ser dada especial atenção, nomeadamente a Vitamina D, uma vez que, para muitos doentes o confinamento, conduziu a uma menor exposição solar e consequentemente a uma menor produção de Vitamina D, pelo que devem ser reforçadas as fontes alimentares desta vitamina no seu dia-a-dia.

Muito embora a maior produção desta vitamina seja sem dúvida por via da exposição solar, e idealmente, nem que seja à sua janela, deverá fazer por apanhar sol cerca de 20 minutos por dia, pelo menos na face, antebraços e mãos. Esta vitamina está também presente em alguns alimentos, os quais pode e deve incluir na sua rotina alimentar, como por exemplo, na gema de ovo, nos peixes gordos como o salmão, o atum, a sardinha e a cavala e ainda em alimentos fortificados como leite ou bebidas vegetais.

Outros dos alimentos que não podemos descurar nestes doentes são as fontes de proteína, dado que em muitas situações existem perdas importantes de peso e consequentemente de massa muscular. Desde as leguminosas, ovos, peixes, carnes brancas, frutos secos e manteigas de frutos secos são alimentos que devem incluir no planeamento alimentar, pois podem ser também uma mais-valia, ajudando na manutenção de um melhor aporte proteico.

Por outro lado, e de uma forma generalizada no contexto da doença oncológica, segundo as recomendações mais recentes nesta área, deve:

  • Evitar o consumo de alimentos processados ricos em gordura, açúcares e amidos, nomeadamente, fast-food, refeições pré-preparadas, snacks, pastelaria, sobremesas pré-preparadas e doces (gomas, rebuçados…etc).
  • Limitar o consumo de carnes vermelhas (vaca, porco e borrego) a 350g-500g/por semana e em especial as carnes processadas ao mínimo (nomeadamente os enchidos e a charcutaria).
  • Evitar o consumo de bebidas açucaradas.
  • Evitar o consumo de bebidas alcoólicas.


Simone Fernandes (nutricionista)